Dólar sobe mais de 2% e encosta em R$ 2,84, maior patamar desde 2004

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Às 14h11, o dólar subia 1,92 por cento, a 2,8308 reais na venda. Na máxima da sessão, a divisa alcançou 2,8398 reais, maior nível intradia desde novembro de 2004

 

O dólar chegou a subir mais de 2 por por cento nesta terça-feira e foi negociado a 2,83 reais pela primeira vez em mais de dez anos, refletindo o estresse do mercado com a possibilidade de a Grécia deixar a zona do euro e com a desaceleração econômica da China.

Embora parte dos fatores que vêm pressionando a divisa norte-americana nos últimos dias tenham origem nos mercados externos, a deterioração dos fundamentos macroeconômicos brasileiros, a apreensão sobre a atividade doméstica, dúvidas sobre o futuro da Petrobras e fatores técnicos garantiam que a pressão cambial fosse mais intensa aqui.

Às 14h11, o dólar subia 1,92 por cento, a 2,8308 reais na venda. Na máxima da sessão, a divisa alcançou 2,8398 reais, maior nível intradia desde novembro de 2004. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro estava em torno de 850 milhões de dólares.

“As moedas emergentes têm sofrido de maneira geral, mas o cenário da economia brasileira está muito deteriorado”, resumiu o operador de câmbio da corretora Correparti João Paulo de Gracia Correa.

Segundo ele, a volatilidade recente do câmbio tende a provocar saída de capitais externos. “Aquele estrangeiro que entrou aqui para ganhar juros quando o dólar estava a 2,65 reais acabou perdendo dinheiro.”

Nesta sessão, as preocupações com a fraqueza da economia da China, importante parceiro comercial do Brasil e referência para investidores em mercados emergentes, foram corroboradas por dados que mostraram que a inflação ao consumidor chinês atingiu em janeiro o menor nível em cinco anos.

O número alimentou o mau humor dos investidores internacionais, já afetado pelo temor de que o impasse entre a Grécia e seus credores force o país a sair da zona do euro, o que poderia enfraquecer ainda mais a economia global.

“Parece haver algum movimento na posição grega que ainda pode formar as bases para um acordo”, escreveram analistas do Brown Brothers Harriman em relatório.

“Dito isso, os credores oficiais não parecem ter aliviado suas exigências em nada.” No front doméstico, as crescentes expectativas de estagnação econômica e inflação de mais de 7 por cento em 2015 somavam-se às preocupações com o futuro da Petrobras, após a nomeação de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, para comandar a estatal.

Investidores temem que a mudança na chefia da petroleira, envolvida em um escândalo bilionário de corrupção, não se traduza em melhora operacional em breve.

Mais cedo, a Verde Asset Management, maior hedge fund do Brasil, divulgou relatório em que defende que a deterioração dos fundamentos macroeconômicos do Brasil ainda não se refletiu completamente no preço do câmbio, projetando mais valorização do dólar.

O mau humor com os fatores internos era corroborado ainda pelas crescentes dúvidas sobre a capacidade do governo de promover um ajuste fiscal significativo neste ano, em meio à crescente oposição às medidas que vêm sendo adotadas pela equipe econômica, encabeçada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

“O problema é que as expectativas de melhora na política econômica estão perdendo força”, disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta. “Se o apoio político deixar de existir, pode haver um downgrade (da classificação de risco soberano) à frente”, acrescentou.

Nesta manhã, o Banco Central deu continuidade às intervenções diárias no mercado de câmbio, vendendo a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, pelas atuações diárias. Foram vendidos 600 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1,4 mil contratos para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a 97,8 milhões de dólares.

O BC também vendeu a oferta integral de até 13 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 2 de março, equivalentes a 10,438 bilhões de dólares. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 42 por cento do lote total.