Congresso tenta levar vida em frente à espera da “lista-bomba”

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Basta parar em qualquer corredor e limpar as orelhas. Qualquer um pode perceber que toda e qualquer conversa no Congresso Nacional nesta semana gira em torno do conhecimento da “lista-bomba” da Operação Lava Jato, montada pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot e já encaminhada ao ministro Teori Zawascki.

Exatamente por causa disto, e a ainda indisponibilidade da lista em caráter público, congressistas tentam levar o trabalho adiante da maneira mais serena quanto possível. Para a sorte deles, esta semana teve início o trabalho das comissões temáticas, com integrantes e presidências já definidos. Assim, a preocupação com o fantasma da lista fica um pouco distante, pelo menos por algumas horas.

A ansiedade é tanta que ainda na noite desta terça-feira (03) começou a circular via Whatsapp entre políticos, assessores e associados uma suposta lista completa com os nomes apontados por Janot e que gerou algum desespero velado. Entretanto, após uma análise mais detida, a unanimidade era de que se tratava de uma lista falsa.

No “bolo” constavam o falecido senador pernambucano Sérgio Guerra (PSDB), que não poderia ser processado por motivos óbvios, além da presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Especialmente os dois últimos nomes têm probabilidades tão pequenas de figurarem na lista que a escalação não recebeu muito crédito. Mantém-se portanto a tensão.

Parlamentares se encontravam no corredor das Comissões da Câmara e comentavam à boca pequena o efeito futuro na vida política dos envolvidos nas investigações. Em suma, a especulação captada pelo Bocão News é algo como “quem será mais prejudicado?”.

Cada um na sua – Petistas confessam o clima de tensão, mas defendem oficialmente, de maneira geral, que quem estiver envolvido que seja investigado e eventualmente punido. Mesmo assim, consultam assessores sobre uma eventual possibilidade de aparecerem no grupo.

Outra reflexão comum é a de que o momento de crise é oportuno para descobrir e separar, dentro do PT, quem é fiel à filosofia e ao programa do partido e quem está apenas exercendo um papel “mercenário”. O argumento revelado à reportagem está calcado na histórica “união” que o partido exibe desde sua criação e que, nas horas ruins, precisa ser usado mais urgentemente.

Peemedebistas, por sua vez, assumem uma postura no meio-termo entre a tentativa de passar serenidade e a desconversa, assumindo portanto um discurso neutro de espera. Não está tudo bem, porém, uma vez que os presidentes da Câmara e Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL) estão na lista. Apesar disto, a força do partido – atualmente rebelado – não necessariamente cai nos bastidores.

Reservadamente, os tucanos preveem certo nível de desconforto por causa do levantamento do nome de Guerra, mas que pode ser administrado. Há ansiedade no PSDB e DEM para saber os nomes e aproveitar a lista na CPI da Petrobras, que é apontada menos como forma de apuração e mais como acirramento da disputa política. O resultado será exaustivamente explorado nas redes sociais oposicionistas, fortalecidas após as eleições.

Outros problemas – Já no Planalto há outras preocupações comparáveis que desviam a atenção de Dilma Rousseff e aliados. A devolução da MP 669 por parte de Calheiros no Senado, prejudicando o ajuste fiscal do governo causou mal estar e reações negativas do mercado, com alta do dólar a jogar a moeda americana a quase R$ 3. Ao mesmo tempo, a manifestação dos caminhoneiros ainda não está totalmente resolvida e a categoria continua a fazer forte pressão na gestão federal.

A série longa de novelos a desamarrar também traz aos petistas no Congresso um consenso a mais: 2015 será um ano de administrar o recebimento quase incessante de ataques por parte da oposição e também de diversos setores da sociedade. Porém, apegam-se ao fato de que ajustes tiveram início agora e, no fim do período de Dilma no governo, a retomada pode estar no seu ápice e trazer benefícios ao grupo dominante.