Em jogo na internet, avatar de Bolsonaro espanca mulheres, negros e militantes de esquerda

Com uma disputa mais do que acirrada pela cadeira da Presidência da República, nas Eleições 2018, muitos eleitores acham que vale tudo para demonstrar apoio ao candidato predileto. Desenvolvedores de jogos, por exemplo, criaram games inspirados no candidato Jair Bolsonaro (PSL). Em um deles, intitulado Bolsomito 2k18, o personagem principal deve bater em gays, negros, feministas e integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Na descrição do jogo, os idealizadores propõem uma crítica ao comunismo: “O jogo Bolsomito 2k18 conta a história de um homem que está cansado de viver em uma sociedade corrompida por um inimigo ideológico que pretende se perpetuar no poder através de uma revolução comunista”.

O principal objetivo do jogo é “livrar-se dos líderes do ‘Exército Vermelho’, que são responsáveis ​​por alienar e doutrinar uma grande parte da nação, a fim de convencê-los a defender e a lutar por suas causas horrendas”, diz trecho da apresentação do game, que está disponível por R$ 8,91, na plataforma Steam – maior software de gestão de jogos eletrônicos do mundo.

O jogo repercutiu negativamente entre outros desenvolvedores. Em um dos maiores grupos de profissionais do setor no Facebook, o Boteco Gamer, que reúne programadores, designers, ilustradores e imprensa especializada, muitos usuários se mobilizaram para denunciar o game, outros tentavam defendê-lo.

A empresa responsável pela produção, BS Studios, chegou a lançar um financiamento coletivo, com o objetivo de arrecadar R$ 35 mil para fazer o game. Eles também ofereceram recompensas para quem contribuísse, como é comum em plataformas de financiamento coletivo de jogos eletrônicos. A empresa arrecadou apenas R$ 153 e desistiu do desenvolvimento com dinheiro de apoiadores. Ainda assim, a equipe deu continuidade ao trabalho e lançou o game no dia 5 de outubro, às vésperas do primeiro turno das eleições.


Mais um jogo foi pensado em referência ao candidato do PSL, denominado Bolsonaro – O Agente. No game, uma estação de metrô é invadida por bandidos e um homem, nomeado de Agente 17, que tem as feições de Bolsonaro, precisa matar seus inimigos. Os alvos vestem camisetas estampadas com o rosto do ex-presidente Lula.

Enquanto alguns usuários elogiaram a criação do jogo, outros criticaram o envolvimento da política. “Disseminar o ódio político não é engraçado nem divertido. Lamentável o momento que o país vive”, diz um dos comentários expostos na plataforma.

Na vida real, muitos atos de violência, envolvendo eleitores de Bolsonaro, foram noticiados após o primeiro turno das eleições. O mais grave ocorreu na Bahia, onde o mestre de capoeira conhecido como Moa do Katendê foi assassinado com 12 facadas após revelar ter votado no PT, partido do presidenciável Fernando Haddad. O autor é eleitor do candidato do PSL.

Urna Wars
Outros jogos desenvolvidos com alusão às eleições de 2018 estão disponíveis na web. Bolsonaro, Haddad, Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Cabo Daciolo (Patriota), Guilherme Boulos (PSol), Geraldo Alckmin (PSDB) e Lula (PT) são protagonistas do game Urna Wars. Na aventura, os políticos precisam conseguir o maior número de moedas para se tornar o presidente do Brasil. “Você mesmo pode ser o seu maior inimigo”, diz trecho da descrição.

Ministério Público investiga
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) vai investigar a startup BS Studios, desenvolvedora do jogo Bolsomito 2K18. Os promotores da Comissão de Proteção dos Dados Pessoais e do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação instauraram, nessa quarta-feira (10/10), um inquérito civil público para apurar os fatos que envolvem o game, comercializado pela plataforma digital Steam.

No inquérito, eles pedem a notificação da Valve Corporation, responsável pela plataforma Steam, para que a empresa cesse a disponibilização do jogo. O Centro de Produção, Análise, Difusão e Segurança da Informação do Ministério Público também procura identificar e qualificar os responsáveis pela BS Studios. (Com informações do MPDFT)