As sementes da Caatinga têm muito a contar, e agora, pela primeira vez, esse segredo está registrado em uma das revistas científicas mais respeitadas do mundo. O Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), comemora a publicação do artigo “Caatinga diaspores: Descriptive overview of dispersal units of seasonally dry tropical forests and woodlands”, assinado pelo pesquisador Fabrício Silva, na renomada revista Ecology. O estudo desvenda a diversidade morfológica e funcional dos diásporos do bioma e lança luz sobre os caminhos que a natureza encontrou para manter a vida em um dos ecossistemas mais resilientes do planeta: a Caatinga.
O artigo apresenta o primeiro banco de dados descritivo voltado exclusivamente aos diásporos que são unidades de dispersão como sementes e frutos da Caatinga. O estudo reúne informações morfológicas e funcionais de centenas de espécies vegetais do bioma, contribuindo diretamente para o aprofundamento do conhecimento sobre os mecanismos de regeneração natural em ambientes de floresta seca tropical. De acordo com Fabrício Silva, o objetivo central da pesquisa foi compreender como as características dos diásporos influenciam os processos de regeneração e resiliência ecológica na Caatinga. “A riqueza de formas e mecanismos de dispersão que registramos mostra o quão estratégica é a natureza para garantir a continuidade ecológica, mesmo em ambientes secos e extremos”, afirma o biólogo.
Para o coordenador do NEMA, Professor Doutor Renato Garcia, a publicação representa um avanço significativo para a ecologia aplicada à conservação do semiárido brasileiro. “Este trabalho representa um marco no estudo da Caatinga. Ao sistematizar informações sobre os diásporos, abrimos portas para intervenções ecológicas mais assertivas. Os resultados do Fabrício reforçam nosso compromisso com a conservação do semiárido e fornecem ferramentas valiosas para políticas públicas e projetos de restauração”, destaca o docente.
Além de seu valor acadêmico, o estudo possui grande relevância prática, especialmente para a região do Vale do São Francisco. Entre os principais impactos, estão:
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Direcionamento técnico para ações de restauração ambiental: A caracterização detalhada das estruturas de dispersão permite orientar a escolha de espécies vegetais mais adaptadas para programas de revegetação em áreas degradadas do sertão, veredas e matas ciliares;
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Subsídios para políticas públicas ambientais: O banco de dados poderá servir de base científica para projetos e editais governamentais voltados à restauração ecológica, como o Programa Caatinga Viva e outras iniciativas financiadas por fundos ambientais nacionais e internacionais;
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Fortalecimento das ações interinstitucionais na bacia do São Francisco: O conhecimento gerado contribui para a atuação de instituições como o IBAMA, CPRH, Codevasf, CBHSF e os próprios núcleos da Univasf que integram o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) executado pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), promovendo o uso sustentável e a recuperação do bioma.
Esta publicação reforça o papel do NEMA/Univasf como referência em ciência aplicada à conservação da Caatinga, integrando pesquisa, ensino e extensão voltados à sustentabilidade ecológica e social do semiárido nordestino. Além disso, é possível conferir uma publicação no perfil do NEMA no Instagram (@nemaunivasf) que resumiu de maneira breve e mais didática esse artigo que está disponível na íntegra no site da revista Ecology, volume 106, de fevereiro de 2025, no endereço eletrônico a seguir: https://esajournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ecy.70024.
Texto: Jaquelyne Costa